sexta-feira, 15 de julho de 2011

A Saga dos Homens – Parte 2

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A Saga dos Homens – Parte 2
Entre “a igualdade” e a “liberdade” dos homens e o poder dos super Homens, um tempo cinzento se abateu sobre aquela terra. Os senhores perseguiam e matavam os que diziam em público as tais palavras proibidas, elas eram considerados subversivas e, portanto, dizê-las e/ou proclamá-las era considerado ato de rebelião, que deveria ser detido a todo custo. E custou mesmo a vida de muitos e a retirada de outros do convívio social. Estes últimos ou eram lançados na cadeia ou eram enviados para terras muito distantes, incomunicáveis (esta é outra historia).
Em contra partida os homens comuns, servidores, além de terem desenvolvido habilidades com as artes, agora tinham a potência do ideal nas mentes. Eles reagiam de forma desafiadora contra os poderosos. Eles já sabiam que toda aquela mística, base do poder dos Homens, era relativa e não passava de uma invenção deles mesmo. Reconheciam que a idéia era boa, mas que estava edificada sobre alicerces mentirosos e que, seus senhores, só queriam manipulá-los. Na maioria das vezes o discurso era persuasivo a ponto de roubar a mente e as convicções. Agora eles realmente lutavam contra isso. Começaram a avisar uns aos outros -”não os ouça”; “cuidado com as suas mentiras”; “pensem, vocês são iguais e livres para escolher seus caminhos”; “fujam do caminho da mentira e da manipulação”.
Alguns, mais exaltados, se entregaram a uma guerra silenciosa, mas armada e sangrenta. Criaram artefatos explosivos e os colocavam onde os Homens estariam discursando, por exemplo. Das poucas vezes que realmente as bombas funcionaram mataram apenas homens que assistiam os inflamados discursos dos ditadores, não causando dano ao alvo pretendido. Na verdade, nenhum ditador morreu assim. Teve quem se fingira de morto, mas que continuou articulando junto aos demais senhores para manterem o poder e calar seus adversários rebelados. Estes se protegiam atrás da morte.
Os homens revoltados reuniam-se semanalmente, escondidos. Veladamente contavam como foi bom e difícil ter enxergado a luz. Outros contavam como conheceram “liberdade” e “igualdade”. Estes eram discursos bem emocionas. Um tema era recorrente nestas reuniões que aconteciam no subterrâneo da cidade, a decepção de quem acredidou e serviu aos Homens crendo que assim serviam aos deuses. Sobre isso sempre falavam que a decepção com os Homens tornara-se ódio, tanto dos opressores, quanto de sua própria tolice e cegueira, quando não viram o que estava explicito: o sorriso e os abraços dos Homens escondiam perfis possessivos de verdadeiros vampiros dominadores, que manobravam com a culpa e a credibilidade de gente simples. Os que contavam este lado da história eram tratados com afeto pelos seus companheiros.
Sempre se tentava fazer com que desistissem da idéia de se aliarem aos que abraçaram a luta armada contra os senhores da terra. Para eles se voltavam as atenções e os abraços, também se procurava dizer: “descobrir o valor da igualdade e da liberdade sempre traz consigo a dor de ter vivido o inverso de nosso ideal, mas é melhor a dor da decepção do que viver eternamente no conforto do engano”. Nada disso foi escrito e tudo se guardava na memória.

Nos palácios os super Homens também se reuniam. Assentados em torno da gigantesca mesa da casa real do primeiro Homem, ele e seus seguidores riam do idealismo dos subalternos. Contavam anedotas com as notícias que lhes chegavam aos ouvidos de como se vivia igualitária e livremente nas aldeias de seus servidores. Naquelas reuniões eles também inventavam mitos de como seus deuses castigavam os que não se sujeitavam a eles mesmos, que deveriam sempre ser vistos como seus (dos deuses) fiéis e santos representantes. Os Homens destilavam sarcasmo. Juntos aos pratos caros devorados rapidamente sempre se ouvia histórias que ridicularizavam os homens. Havia também a decisão de matar ou expulsar os prisioneiros, mas na maior parte do tempo o que se ouviam eram gargalhadas. Eles estavam seguros pelos muros do poder.
Era um fim de tarde chuvoso na terra dos homens, o vento frio trazia uma garoa gelada que empurrava os ânimos para debaixo das cobertas. Quando a noite chegou, as ruas estavam vazias e mais frias ainda. Alguns homens da iniciativa armada saíram as escondidas e colaram cartazes nos postes e muros. Nos cartazes podia ser lido: “Morte ao opressor”. O cartaz era assinado por um grupo até agora desconhecido pelo nome.
Até então ninguém ouvirá falar dos “Libertadores Igualitários”, que ainda utilizavam o slogan “pela morte ou pela paz, liberdade e igualdade”. O slogan estava no cartaz abaixo do nome do grupo.

Logo pela manha, quando os primeiros cartazes foram lidos, houve medo. Qual seria a reação dos super Homens? O que estava acontecendo com os homens que, até então, mesmo trabalhando para os Homens, viviam em suas vilas e ruas o ideal de igualdade e liberdade? Todos sabiam dos atentados fracassados e das reações sádicas dos senhores que as bombas causaram. Agora eles tinham uma declaração pública de guerra. Coisa que a maioria já não queria, ao menos não mais.
A noite caiu novamente e os Homens se reuniram de novo. Agora o clima de sarcasmo dava lugar a necessidade de mostrar a força. Eles prepararam um plano complexo que começaria imediatamente com a invasão das vilas e vielas dos homens e com o assassinato, indiscriminado, de quem encontrassem pela frente. No dia seguinte a esta reunião os Homens montaram seus cavalos, vestiram roupas pretas e máscaras enquanto aguardaram o anoitecer. O objetivo da missão macabra era matar o maior número de pessoas possível, preferencialmente os indefesos. Irreconhecíveis pelos disfarces, os senhores seguiram através das ruas dos servidores assim que a noite caiu. Com armas em punho atiravam em todos os que estavam fora de casa. Os primeiros atingidos e mortos foram três homens que bebericavam e conversavam sobre tudo e sobre nada após um dia de trabalho, eles caíram mortos com tiros na cabeça. Dois outros cavaleiros se depararam com crianças jogando bola de gude e, sem nenhuma piedade atiraram e mataram-nas ali mesmo. Depois disso, o gosto de matar e a sensação de poder fez com que os Cavaleiros de Negro gostassem da coisa, então foram quarenta minutos de tiros, estupros, corpos arrastados e cabeças estouradas. Ninguém, nem em seu maior pesadelo, sequer ousou pensar em ver as cenas que foram vistas. Naquela noite os homens contaram seus mortos, noventa, a maioria velhos, mulheres e crianças.
No dia seguinte, estranhamente, os super Homens visitaram os homens. Entraram nas ruas manchadas de sangue e cortadas por choros e gritos de dor. Seus passos eram lentos e pareciam pasmos com o que viam. Eles levavam seus deuses nos ombros. Se dirigiram ao local onde as primeiras crianças foram alvejadas onde um deles gritou e logo foi seguido pelos demais – “Nossos deuses vingarão o sangue inocente que caiu esta noite nestas terras. Juramos pelos nossos pais, nossos deuses e nossa honra que enforcaremos aqui cada um dos monstros que vos macularam”.
Os homens enterravam seus mortos. Os Homens voltaram gargalhar.

Continua…
Pr. Fábio Teixeira
http://menteiluminada.blogspot.com/

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