segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Uma Exegese [Interpretação] de Hebreus 6:4-6

Postado por: Unknown às 13:10 Comente

quem ama nunca desiste 250x187 Uma Exegese [Interpretação] de Hebreus 6:4 6
É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados e provaram o Dom celestial e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que de novo estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia.
Introdução
A interpretação desta dificílima passagem que apresentarei mais adiante se dará a partir de uma perspectiva arminiana por causa de minhas convicções doutrinárias. Antes, porém,  elencarei algumas interpretações de Hebreus 6:4-6.
Arminiana Normal
Compreende que a passagem de Hebreus apóia a sua teoria da apostasia real de um crente verdadeiro.
Arminiana Radical
Diz que um genuíno crente não apenas pode apostatar da fé, mas que o seu retorno é impossível.
A Teoria dos Pouquíssimos Apóstatas
Afirma que alguns poucos apóstatas é que ficarão totalmente a parte da esperança de retorno a fé salvífica.
Calvinista Franca
Afirma que os sujeitos indicados em Hebreus 6:4-6 não podem ser crentes verdadeiros.
Hipotética
De caráter calvinista, tal interpretação sugere que os crentes advertidos são crentes verdadeiros apenas sendo assustados por uma idéia surreal de apostasia.
Analisaremos este texto destacando as seguintes palavras-chaves:
  • foram iluminados;
  • provaram o dom celestial;
  • tornaram-se participantes do Espírito Santo;
  • a boa palavra de Deus;
  • os poderes do mundo vindouro;
  • caíram e,
  • impossível outra vez renová-los para arrependimento.
“foram iluminados”
A palavra grega usada para iluminados é phôtisthentas que quer dizer “a iluminação… que Deus dá o entendimento e os olhos da luz espiritual” (Rienecker e Rogers, 1995, p. 505).
  • A palavra grega phôtisthentas aparece em 10:32 e ali é usada claramente como um demonstrativo de que as pessoas para as quais estava sendo endereçada tal epístola eram crentes genuínos.
O autor salienta nessa passagem o seguinte: “lembrai-vos, porém, dos dias anteriores…” Esses “dias anteriores” referem-se aos inícios da caminhada de fé. O que tinha ocorrido nesses primeiros dias de fé? “Grande luta e sofrimento.” Perseguições, ridicularizações, confisco dos bens (v 34), etc., caracterizaram o elevado preço que aqueles crentes deveriam pagar por causa da fé.
Para o escritor, ser “iluminado” é partilhar de uma fé autêntica e vigorosa. A expressão anterior a “foram iluminados”, “uma vez” (apaks), pode ser traduzida por “de uma vez por todas” (ver 10:2) que indica a autenticidade da experiência.
“provaram o dom celestial, a boa Palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro”
No grego, “provaram” é geuomai que, “expressa o desfrutar real e consciente das bençãos apreendidas em seu verdadeiro caráter” (idem).
David Peterson, no Comentário Bíblico Vida Nova (2009, p. 2002) diz que esta palavra “sugere experimentar algo de forma real e pessoal (não simplesmente uma degustação).”
Esta palavra (provar, sentir o gosto de, experimentar) também aparece em 2:9. Este versículo fala de Jesus ter provado a morte pelos homens, realidade essa que não pode ser pensada como uma prova parcial e não completa.
“tornaram-se participantes do Espírito Santo”
Em 3:1, 14 a mesma palavra é usada e ela está atrelada a situações que envolvem uma real experiência salvífica. No versículo 1 diz: “Por isso, santos irmãos, que participais (ênfase minha) da vocação celestial…” Em 3:14 está escrito: “Porque nos temos tornado participantes (idem) de Cristo…” Sobre este verso Peterson diz: “Pela graça de Deus, os crentes se tornaram participantes de Cristo e de tudo que ele oferece” (2009, p. 1995). É preciso notar que essa participação é como filho:
  • Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as cousas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse por meio de sofrimentos o Autor da salvação deles. Pois, tanto o que santifica, como os que são santificados, todo vêm de um só. Por isso é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: A meus irmãos declararei o teu nome, cantar-te-ei louvores no meio da congregação; e outra vez: Eu porei nele a minha confiança. E ainda: Eis aqui estou eu, e os filhos que Deus me deu. Visto, pois, que os filhos têm participação (ênfase minha) comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo [...]
“Caíram”
No grego, a palavra é parapipto que traduzida é cair, cair para fora, desviar-se (Rienecker e Rogers, 1999, p. 506). Champlin diz: “verbo usado também para indicar ‘cometer apostasia’. É este último sentido que deve ser entendido aqui”. (1985, p.540). Russel Shedd, nas notas de rodapé da Bíblia Vida Nova, comenta: “é claro que esta queda se trata de apostasia, a renúncia total da fé em Cristo.” (1995, p. 262).
O Novo Testamento atesta, de maneira cristalina, que um crente de fé autêntica pode desviar-se (Mt 24:4-5, 11-13; Lc 9:62, 17:32; Jo 15:1-6; T 11:21-23, 14:21-22; 1Co 15:1-2; Cl 1:21-23; 1Tm 1:19, 4:1, 16, 6:10-12; 2Tm 2:17-18, 4:2-5, 10; Hb 2:1-3, 3:6-8, 12-14; Tg 5:19-20; 2Pe 1:8-11; 1Jo 2:23-25).
Em Gálatas 5:4, Paulo afirma: “da graça decaístes.”
O teólogo Henry Clarence Thiessen afirma: “[…] todos aqueles… que foram justificados… jamais cairão total ou finalmente do estado de graça, mas certamente nele perseverarão até o final” (2000, p. 276). O problema com esta assertiva é que elas não se alinham com Hebreus 6:4-6 e o seu contexto imediato.
“Impossível outra vez renová-los para arrependimento”
A força destas palavras assustam. Mas elas querem dizer o que realmente estão dizendo. Chamo a atenção para a palavra renová-los que quer dizer fazer de novo, e pergunto: como fazer novamente aquilo que nunca foi feito?
Conclusão
A razão da advertência bem detalhada pelo escritor aos seus leitores, representada aqui e agora por esta última, é que o caminho da apostasia implica em estar, novamente, “crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia.” (v 6). Alguns exegetas como Philip E. Hughes (1977) e F.F. Bruce (1977), citados por Reinecker e Rogers (1995, p. 506), chamam a atenção para o tempo particípio presente da frase “de novo estão crucificando”, que indica uma continuidade da crucificação de Jesus Cristo, Filho de Deus, devido à apostasia.
O caso aqui tratado é o de chegar a um ponto sem retorno. Por isso, é de vital importância não negligenciar as seguintes Escrituras:
  • … diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações… (Hebreus 3:7-8)
  • De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça? (Hebreus 10:29)
Livros Usados:
Chave Linguística do Novo Testamento Grego. Fritz Rienecker e Cleon Rogers.
Comentário Bíblico Vida Nova. (org. D. A. Carson)
O Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo. R.N. Champlin.
Palestras em Teologia Sistemática. Henry Clarence Thiessen.
Fonte: Dokimos

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